quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ameaça Invisível: a invasão de espécies e a poluição através da água de lastro


Por: Rafaela Pedigoni Mauro
·                    O que é água de lastro?
            Para manter o navio em equilíbrio quando descarregado, colhe-se água do mar para o enchimento de tanques. Ao receber nova carga, a água coletada é descartada. Como, na maior parte das vezes, não é feito nenhum processo para eliminar possíveis seres vivos que foram trazidos na viagem, eles são despejados de forma negligente em um ambiente estranho, podendo causar uma série de problemas. Abaixo, pode-se ver um esquema desse processo:
Imagem disponível em:  <http://www.folhadomeio.com.br/publix/fma/folha/2003/06/lastro.html>. Acesso em:  20 de set. de 2011.

·                       O que pode ser carregado nos tanques dos navios?
            A maior parte das espécies marinhas passa, em sua vida, por um estágio em forma de plâncton. As larvas e ovos de peixes, moluscos e crustáceos são transportados em viagens transoceânicas na água de lastro e aqueles seres que sobrevivem e conseguem se enquadrar no novo ambiente formam comunidades de espécies invasoras. Além desses pequenos animais marinhos, bactérias como a Vibrio cholerae, causadora da cólera, podem ser deslocadas por esse meio.
·                    Há algum caso de invasão biológica envolvendo água de lastro conhecido no Brasil?
O caso mais notório é o do molusco bivalve  Limnoperna fortunei, conhecido por mexilhão dourado e originário de rios da China. Ele foi trazido por navios até portos no Rio da Prata, e chegou a muitas usinas hidrelétricas, inclusive a de Itaipu. O mexilhão dourado adere-se à tubulações e turbinas das usinas, entupindo-as.
            O site www.ambientebrasil.com.br divulgou em 18 de abril deste ano uma notícia sobre o tema. Segue um trecho.
            “A Cemig (energética mineira) se prepara para enfrentar pela primeira vez o molusco, na usina de São Simão, em Goiás. A espécie é vista a 30 km da unidade.
            Um projeto de modernização prevê implantar a partir de 2012 um sistema que injeta dentro das unidades geradoras uma substância que evita que mexilhões grudem. Cada limpeza feita dura cerca de quatro dias e causaria prejuízo de mais de R$ 1 milhão para cada unidade geradora.
            A Copel (Companhia Paranaense de Energia), que convive com a espécie desde 2006 na usina de Governador José Richa, no rio Iguaçu, preparou sistema parecido em duas outras usinas no rio. Uma substância injetada nas tubulações da usina altera o pH da água e evita a fixação da larva do molusco. Em quatro usinas da Cesp (companhia energética paulista), nos rios Paraná e no rio Tietê, a estratégia deu certo, segundo a empresa. Desde 2004, uma substância baseada em cloro evita a formação de colônias e que as máquinas precisem ser paradas para limpeza. Os gastos anuais com o sistema são de cerca de R$ 100 mil”. (Disponível em: <http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2011/04/18/68879-hidreletricas-se-preparam-para-conter-praga-do-mexilhao.html>. Acesso em: 20 de set. de 2011).



            Ou seja, é evidente que o problema da invasão biológica causa prejuízos econômicos, ambientais e à própria saúde humana, ficando bem clara a relevância desta questão para agências nacionais e internacionais.
            Em uma entrevista cedida ao site Folha do Meio Ambiente ainda em 2003, o engenheiro Raymundo Garrido descreveu o impacto ambiental da água de lastro como “(...) uma das quatro maiores ameaças para a vida oceânica”, sendo que as outras são:                                                                                                            
        “Em primeiro lugar, são as fontes de poluição marinha oriundas de terra firme, que podem chegar pelos estuários dos rios, por descargas ou vazamentos de embarcações, acidentais ou criminosos, por emissário submarinos.   Em segundo lugar, mas não menos importante, a super exploração de recursos marinhos, com a possibilidade de extinção de espécies marinhas oceânicas. E, a terceira, são os impactos causados nas zonas costeiras, com a destruição dos habitats marinhos” (GARRIDO, 2003, IN GORGULHO).
            Enfim, diferentemente dos demais problemas acima apresentados, a contaminação da água e introdução de novos seres por meio da água de lastro ocorre de forma “invisível”, os resultados são percebidos apenas mais tarde, quando o desequilíbrio já foi instaurado. 


Referências:
ÁGUA de lastro e os recursos hídricos: Dez bilhões de toneladas de água rodam anualmente o mundo equilibrando. Disponível em: <http://www.folhadomeio.com.br/publix/fma/folha/2003/06/lastro.html>. Acesso em: 20 de set. de 2011.

INVASÕES Biológicas Marinhas: Água de Lastro. Disponível em: <http://zoo.bio.ufpr.br/invasores/aguadelastro.htm>. Acesso em: 20 de set. de 2011.

HIDRELÉTRICA se preparam para conter “praga do mexilhão” Disponível em:

MEXILHÃO dourado: infestação diminui, mas medidas de prevenção continuam .Disponível em: <http://www.cultivandoaguaboa.com.br/noticias/mexilhao-dourado-infestacao-diminui-mas-medidas-de-prevencao-continuam>. Acesso em: 20 de set. de 2011.



A exploração marítima e suas consequências ambientais e geopolíticas

 
Os minerais de terras raras: uma breve introdução

Por: Victor de Souza Goes

Na atualidade, a sociedade é bombardeada constantemente por produtos de alta tecnologia oferecidos pelo mercado. Exemplos muito claros podem ser dados pelas TVs de tela plana, carros elétricos e produtos multimídia, como iPods e seus componentes adicionais, como os fones de ouvido. Mas o que todos esses produtos possuem em comum, além de serem considerados high-tech?
A resposta é simples: esses produtos são feitos a partir dos chamados minerais de terras raras. Mas o que exatamente são esses minerais? A resposta pode ser dada através do link que se segue, o qual possui um pequeno vídeo, de autoria da BBC Brasil: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/07/110704_china_minerais_raros_bg.shtml
A partir do vídeo, pode-se perceber que esses minérios possuem uma importância extremamente relevante na economia mundial contemporânea. Antes dominados em sua produção pelos Estados Unidos, hoje, porém, é a China a detentora de mais de 90% do fornecimento desses minérios para o planeta. Mas o que o vídeo não chega a comentar é o fato de uma grande quantidade dessa variedade mineral estar localizada não em terras continentais, mas nos fundos marítimos, tanto aqueles controlados pelos Estados como nas chamadas águas internacionais.
Ao analisar o contexto, vê-se que o comércio e até mesmo o transporte mundiais dependem da exploração desses minérios. Entretanto, os empecilhos não são poucos, uma vez que a atividade de extração pode contaminar ecossistemas – já que muitos minerais de terras raras são radioativos – além de, no caso dos fundos marítimos internacionais, estes poderão se tornar alvos graduais de uma acirrada disputa por poder entre os Estados. E essa disputa pode não considerar de maneira relevante os cuidados necessários para lidar com um ambiente tão biologicamente rico e sensível como as terras submersas.
Referências:
<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/07/110704_japao_metais_raros_>. Acesso em: 20 set. 2011

Ameaça Invisível: a invasão de espécies e a poluição através da água de lastro

Por: Rafaela Pedigoni Mauro
Iniciaremos o nosso tema com a apresentação do problema decorrente da invasão de espécies exógenas que ocorrem através das águas de lastro dos navios e  com uma breve história da Organização Internacional Marítima (IMO) e da Globallast, pois ambas lidam com este assunto.
Fazendo uso da Convenção Sobre Diversidade Biológica, estabelecida em 5 de junho de 1992, citamos o Artigo 3º o qual dita que, conforme apregoado pelo Direito Internacional, todos os Estados são soberanos para explorar seus recursos naturais da forma que lhes aprouver, em conformidade com suas legislações ambientais, mas, ao mesmo tempo, devem cuidar para que “atividades sob sua jurisdição ou controle não causem dano ao meio ambiente de outros Estados ou de áreas além dos limites da jurisdição nacional”. (Disponível em: <http://www.propesp.ufpa.br/spi/legislacao/outros-CDBPORT.pdf>. Acesso em: 27 de ago. de 2011).
Mais de 160 países assinaram a Convenção Sobre Diversidade Biológica, a qual foi organizada durante o Rio-92, e entrou em vigor em 1993. Todavia, os Estados mostram-se hesitantes quando se trata de implementar políticas que cumpram aquilo que foi contratado.  Enquanto isso, os prejuízos ambientais multiplicam-se em troca do lucro e do crescimento econômico – obviamente não sustentável – de vários países.

             Embora assegurada pela legislação acima citada, o que se nota é a poluição das águas costeiras marítimas através da contaminação por milhares de espécies que são carregadas na água de lastro e encrustadas em cascos de navios e lançadas em diversos ambientes de forma aleatória, prejudicando a fauna, a flora e a economia de vários países pelo mundo. Além disso, diversas substâncias tóxicas – óleos, detergentes e produtos químicos em geral – são despejados no oceano por navios de carga e passeio sem o mínimo cuidado, acrescidos neste panorama, o excessivo barulho emitido por estas frotas marítimas vem prejudicando a vida animal marinha.


Imagem disponível em: <http://www.egdesign.com.br/projeto.php?id=8>. Acesso em 27 de ago. de 2011.

Breve história sobre a Organização Marítima Internacional

            Em 1948, em uma conferência internacional da ONU em Genebra, Suíça, foi criada a International Maritime Organization ou, em tradução livre, Organização Marítima Internacional (IMO). Essa organização, a princípio, tinha por objetivo garantir a cooperação entre Estados a fim de preservar o ambiente marítimo internacional seguro em termos de navegação. Mais tarde, os problemas ambientais entraram em foco e em 1973, foi estabelecida a International Convention for the Prevention of Pollution from Ships, a fim de prevenir e lidar com a poluição marinha causada por navios.
            Trinta e um anos mais tarde, em Londres, a IMO estabeleceu uma convenção responsável por regulamentar e controlar a água de lastro e os sedimentos dos navios (International Convention for the Control and Management of Ships' Ballast Water and Sediments), criando um programa chamado Globallast, que visa “assistir países em desenvolvimento a: reduzir a transferência de organismos aquáticos nocivos e patogênicos na água de lastro de navios; implementar as Diretrizes da IMO sobre água de lastro e preparar a nova Convenção da IMO sobre água de lastro” (tradução livre) (Disponível em: < http://globallast.imo.org/index.asp>.).

Imagem disponível em: < http://www.blogmercante.com/2010/03/representante-brasileiro-na-imo/>. Acesso em: 21 de set. de 2011.
Nas próximas postagens, buscarei apresentar os esforços da IMO e do Globallast para evitar as invasões de espécies exóticas, bem como as medidas tomadas pelo governo brasileiro neste mesmo sentido. Além disso, mostrarei como essas espécies vêm interferindo o meio ambiente e a economia de nosso país e de outros pelo mundo, e como se podem evitar tais invasões.

Referências:
 GLOBALLAST Partnerships. Disponível em: < http://globallast.imo.org/index.asp>  Acesso em: 27 de ago. de 2011;

INTERNACIONAL Maritime Organization. Disponível em: <http://www.imo.org/Pages/home.aspx> Acesso em: 27 de ago. de 2011;

MINISTÉRIO do Meio Ambiente. Convenção Sobre Diversidade Biológica.  Série Biodiversidade nº 1, Brasília, 2000. Disponível em:  < http://www.propesp.ufpa.br/spi/legislacao/outros-CDBPORT.pdf > Acesso em: 27 de ago. de 2011.

Série: Exportação legal e ilegal de lixo pelos oceanos

Os jogos políticos e econômicos internacionais e a responsabilidade de todos -  mapeamento de ocorrência e ações de legislações e organismos internacionais

Por: Luciana Vassallo Costa

1º. Capítulo: Apresentação
O lixo é um dos maiores problemas da sociedade hiper-industrial contemporânea, principalmente dos países mais desenvolvidos que têm níveis maiores de consumo – e de consumo de ponta. Já que não possuem espaço e não querem acumular em seu território “lixo indesejável”, como lixo tóxico, com componentes de computadores, químicos e outros, diversos países lançam esse material nos oceanos, ou fazem a chamada “exportação de lixo”, com destino principal os países subdesenvolvidos.
Os principais destinos dos navios carregados de containers de lixo tóxico são países da Ásia e da África, estes que incinerarão o lixo ou o descartarão em seus territórios sem os devidos cuidados ambientais, na maioria dos casos. Os danos ambientais são gravíssimos desde o início desse processo, com perigo de poluição oceânica no trajeto e, ao final, de poluição terrestre do destino que o lixo tiver.
Essa série tem como objetivos, em seus diversos capítulos que terá, mapear e entender as causas e consequências da chamada exportação de lixo que ocorre legal ou ilegalmente entre os países, levando em consideração tanto a poluição marítima que ocorre no trajeto (ou como ‘alternativa’ à exportação de lixo, quando este é jogado ao oceano), quanto a poluição ambiental terrestre do destino que o lixo terá. Visto isso, procurar-se-á listar e analisar as legislações e acordos internacionais vigentes sobre o assunto, além de enumerar possíveis jogos políticos e econômicos envolvendo a questão do lixo no âmbito da sociedade internacional.
Assista, abaixo, um vídeo simples que explica de forma eficiente um pouco dos danos ambientais que a poluição dos oceanos causa à natureza e aos próprios seres humanos:




Série: Exportação legal e ilegal de lixo pelos oceanos

2º. Capítulo: Lixo – os restos indesejáveis do desenvolvimento tecnológico e econômico (Parte 1)

Por: Luciana Vassallo Costa

            O jornal online “Correio Internacional” publicou em outubro de 2009 uma matéria intitulada: “Europa: Contrabandeando Lixo para Países Pobres”. O artigo destaca uma observação muito importante acerca do assunto de exportação, no caso tráfico, de lixo: com o aumento das preocupações ambientais iniciando-se principalmente no final do século passado, as leis ambientais e a preocupação ambiental aumentaram no âmbito de fóruns nacionais e internacionais, resultando em maior rigidez, ao menos normativa. A exportação de lixo tornou-se um ótimo negócio internacional, como expõe o artigo, visto que países ricos com bom desenvolvimento e produção de alto nível tecnológico podem escapar, dessa forma, às rígidas leis ambientais de descarte e tratamento de lixo imputadas às empresas caso o lixo fosse descartado no próprio país. Sendo assim, uma “ótima” solução encontrada é “jogar o lixo na casa do vizinho”, mesmo que esse vizinho seja pobre e não tão próximo. E o fator do vizinho ser pobre, ou um país em desenvolvimento, termina sendo um diferencial ainda maior para facilitar o descarte desse lixo indesejável. 

"Rotterdam, o porto mais movimentado da Europa, involuntariamente se tornou a maior porta de saída de lixo europeu, que é destinado a lugares como China, Indonésia, Índia e África. Lá, resíduos eletrônicos e detritos de construções contendo resíduos químicos tóxicos são geralmente desmontados por crianças com uma grande ameaça à sua saúde. Outros materiais que deveriam ser reciclados de acordo com a legislação européia podem ser simplesmente queimados ou deixados para apodrecer, poluindo o ar e a água e liberando gases que aumentam o aquecimento global." (Disponível em: < http://www.correiointernacional.com/archives/1768 >. Acesso em 19/09/2011)


O contrabando não é só de lixo tóxico de empresas, ou de peças de informática e eletro-eletrônicos descartados – é também, e em grandes quantidades, de lixo doméstico. Imagem disponível em: < http://noseoutrosolhos.blogspot.com/2011/04/rio-grande-do-sul-e-sao-paulo-entraram.html >. Acesso em 19/09/2011.

Referência:
EUROPA: Contrabandeando lixo para países pobres. Disponível em: <http://www.correiointernacional.com/archives/1768 >. Acesso em 19/09/2011.

Antártida - Onde o mar se confunde com a terra

Por: Leonardo Mendonça Figueiredo

INTRODUÇÃO À ANTÁRTIDA

            É muito comum perguntar às pessoas quantos continentes existem no mundo e obter como resposta o número “cinco”, porém, o que elas esquecem, é que ao sul de 60º de latitude sul do planeta há uma imensa porção de terra coberta de gelo responsável por resfriar todo o clima do Hemisfério Sul. Tamanha é a relevância da Antártida, que passam por ela as correntes marítimas mais velozes e se formam as massas de ar mais frias do planeta.
            Sabendo da sua influência sobre as temperaturas terrestres e de sua riqueza natural, surgiu um fenômeno recente de interesse político na região. No final da década de 50 do século XX, foi instaurado o Tratado da Antártida entre 12 países, sendo estes tanto países desenvolvidos quanto países próximos ao Continente Antártico, com o objetivo de desenvolver a interação pacífica entre os signatários em sua coexistência dentro do continente austral.
            Desprovida de uma população humana nativa, essas terras são ocupadas por bases científicas espalhadas por toda a área sem propósitos militares, sendo proibidas atividades nucleares.  Trata-se, pois, de uma região politicamente neutra, embora alguns signatários do tratado reivindiquem territórios. Nos dias de hoje, há o total de 65 estações de pesquisas competentes aos 30 países signatários.

Reivindicações territoriais na Antártida. Imagem disponível em: <http://www.tierradelfuego.org.ar/v4/ima/articulos/12gr.jpg>. Acesso em: 1º set. 2011.
 
            O Brasil é um destes países e instalou sua base em um dos extremos do Continente Antártico localizado próximo à América do Sul, a Península Antártica. A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) se situa na Ilha do Rei George e foi instalada em 1984. Atualmente ela é composta por 64 módulos de dimensões variadas construídos em aço. Além de acomodações básicas para até 46 pessoas, a base possui 16 laboratórios destinados às pesquisas biológicas, químicas e atmosféricas, e módulos de apoio logístico.

Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). Imagem disponível em: <http://historica.com.br/wp-content/uploads/2011/01/eacf_noite.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2011.

            O interesse despertado pela Antártida é recente tanto pela dificuldade que o homem encontrou para explorá-la ao longo do tempo, sendo viável esta abordagem com as novas tecnologias, quanto pela importância que os temas ambientais têm despertado ao longo das últimas décadas. Portanto, além de questões estratégicas no que diz respeito à geopolítica, seu ecossistema distinto e complexo deve ser analisado, assim na terra como no mar.

A OCEANOGRAFIA ANTÁRTICA

            Como a temperatura e a quantidade de água doce (concentrada em forma de gelo) no mar influenciam na densidade e na absorção de gases, o oceano antártico detém características peculiares. A produção de plâncton e algas é intensa, uma vez que as condições da água permitem a maior absorção de gases atmosféricos, desta forma, com uma vasta oferta na base da cadeia alimentar, a biodiversidade no local é vasta.


           O plâncton em grande quantidade alimenta milhares de camarões que se reproduzem em águas frias, inclusive o Krill, principal conjunto de crustáceos marítimos situados na base da cadeia alimentar. Estes, por sua vez, são fonte de alimento para diversos animais da região, inclusive da ordem dos maiores mamíferos do planeta, os cetáceos.
            Toda essa variedade de vida habita na periferia do continente, visto que o interior oferece condições inóspitas demais para a sobrevivência de grandes formas de vida. Portanto, todos os animais que usufruem do continente são marítimos ou voadores, obtendo, assim, condições de migrarem para regiões mais quentes do planeta quando chega o inverno na Antártida, o mais rigoroso do mundo.
            Os animais não migram necessariamente por causa do frio hibernal, que atinge médias de    -15ºC na zona costeira e de -50ºC no interior continental, mas sim devido ao congelamento dos mares nessa época do ano. Assim, tornam-se inviáveis a obtenção de comida por parte das aves e a emersão dos mamíferos aquáticos e dos pinguins (animal símbolo da região) para respirarem.
            Essas baixas temperaturas do Oceano Glacial Antártico são responsáveis pela vasta extensão territorial do continente, pois, sua porção de terra é muito ínfima (somente 0,4% do continente) e a área do manto de gelo antártico é responsável por imensos 13.612.690 km². Com plataformas de gelo que medem em média 2km de altura, é na Antártida que se concentram 90% do gelo e 70% de toda a água potável do mundo.
            A água passa a ser compreendida, então, como a maior riqueza mineral do continente polar, que pode ter sua área dobrada para aproximadamente 20.000.000 km² no inverno devido ao fenômeno do congelamento dos mares. Em virtude disso, o estudo da Antártida se torna tão relevante para temas marinhos, pois é lá que a terra se confunde com o mar.
            Condições físico-climáticas tão extremas dificultam o acesso ao continente, que, na maioria das vezes, deve ser feito pelo ar. No entanto, para o transporte de cargas e materiais de pesquisa, a rota marítima ainda assim é muito utilizada. Dois obstáculos típicos para se atingir o continente pela via marítima são correntes de água fria e de ventos. Ambos com altas velocidades.

Navio explorador não suporta as condições adversas de navegação. Imagem disponível em: <http://www.selectopedia.org/thumbnail.php?file=cruise_ship_sinks_132934979.jpg&size=article_medium>. Acesso em: 1º set. 2011.

            Os mares circunscreventes à Antártida possuem correntes geladas que viajam a uma velocidade de até 60km por dia, como no estreito de Drake (passagem entre o oceano Pacífico e Atlântico, no extremo Sul da América do Sul e no Norte da península Antártica). Esta corrente, denominada Corrente Circumpolar Antártica passa próxima à linha de Convergência Antártica (60ºS) e é ela que permite o resfriamento das águas próximas ao continente que, por conseguinte, consegue manter sua temperatura baixa e suas plataformas congeladas.

Circulação de correntes oriundas na Antártida. Imagem disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/antartida-continente/imagens/antartida-103.jpg>. Acesso em: 1º set. 2011.

            A passagem de embarcações pela região supracitada é árdua também por causa dos ciclones extratropicais comuns nos oceanos próximos ao Pólo Sul. Posto que os mares respondem aos ventos, as ondas podem chegar a 12 metros de altura ou mais, ainda que normalmente não passem dos 7 metros. Desta maneira, todos os trabalhos de estudos oceanográficos ou de exploração econômica da área são feitos próximos à orla do continente para que as embarcações que fazem esses serviços tenham assistência das bases que ali se localizam, como no caso da EACF.

CONCLUSÃO

            Seja pela biodiversidade local distinta de todo o resto do planeta, seja pela riqueza mineral da região ou mesmo pelo caráter obscuro que ainda possui, o Continente Antártico possui grande apelo entre os estudiosos de diversas áreas, inclusive das Relações Internacionais. Em virtude disso, o Brasil e outras três dezenas de países já demonstraram suas intenções de explorar a região.
            Não se sabe ao certo o que acontecerá com a Antártida assim que a validade do tratado expirar, mas de modo geral, o país mais visionário, que estiver trabalhando com o meio ambiente, um dos principais temas da nova agenda global, e que dispuser de um acervo tecnológico desenvolvido com este foco, poderá ter para si uma parte de toda a riqueza congelada no pólo sul.
            Logo, atos que visem a empreendimentos futuros na região não poderão ser irrefletidos, já que a Antártida é o último continente na Terra que não possui um governo soberano, o que a torna cobiçada e frágil frente aos interesses geo-estratégicos dos atores internacionais. Lembrando que esta região, por ser a mais preservada do planeta, pode irromper como a solução de vários problemas ambientais e econômicos que a humanidade ainda possui. Infere-se, portanto, que uma política voltada para a preservação desse domínio torna-se urgente para fins vindouros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTÁRTIDA. Disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/antartida-continente/antartida-2.php>. Acesso em: 31 de ago. 2011.
BRAGA, Elisabete. Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz. Disponível em: <http://www.jornaljovem.com.br/edicao17/antartida_io_proantar01.php>. Acesso em 31 ago. 2011.
DADOS geográficos básicos da Antártida. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/antartica/antartica-antartida.html>. Acesso em: 31 ago. 2011.
GANDRA, Rogério. O Brasil e a Antártida: ciência e geopolítica. Disponível em: <http://www.cantacantos.com.br/revista/index.php/geografias/article/view/175/139>. Acesso em: 31 ago. 2011.
FELICIO, Ricardo. Antártida – A geografia do continente gelado e as operações brasileiras. Disponível em: <http://confins.revues.org/122?&id=122&type=auteur> Acesso em: 31 de ago. 2011.
PENTEADO, Homero. ALVAREZ, Cristina. Proposta simplificada de metodologia de avaliação de impacto paisagístico para novos empreendimentos a serem implementados no ambiente antártico. Disponível em: <http://www.car.ufes.br/lpp/sites/www.car.ufes.br.lpp/files/RAPAL_CHILE2006_impacto_paisagistico.pdf >. Acesso em 31 ago. 2011.
TRATADO da Antártida. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/dai/tratantartida.htm>. Acesso em 31 ago. 2011.