INTRODUÇÃO À ANTÁRTIDA
É muito comum perguntar às pessoas quantos continentes existem no mundo e obter como resposta o número “cinco”, porém, o que elas esquecem, é que ao sul de 60º de latitude sul do planeta há uma imensa porção de terra coberta de gelo responsável por resfriar todo o clima do Hemisfério Sul. Tamanha é a relevância da Antártida, que passam por ela as correntes marítimas mais velozes e se formam as massas de ar mais frias do planeta.
Sabendo da sua influência sobre as temperaturas terrestres e de sua riqueza natural, surgiu um fenômeno recente de interesse político na região. No final da década de 50 do século XX, foi instaurado o Tratado da Antártida entre 12 países, sendo estes tanto países desenvolvidos quanto países próximos ao Continente Antártico, com o objetivo de desenvolver a interação pacífica entre os signatários em sua coexistência dentro do continente austral.
Desprovida de uma população humana nativa, essas terras são ocupadas por bases científicas espalhadas por toda a área sem propósitos militares, sendo proibidas atividades nucleares. Trata-se, pois, de uma região politicamente neutra, embora alguns signatários do tratado reivindiquem territórios. Nos dias de hoje, há o total de 65 estações de pesquisas competentes aos 30 países signatários.
Reivindicações territoriais na Antártida. Imagem disponível em: <http://www.tierradelfuego.org.ar/v4/ima/articulos/12gr.jpg>. Acesso em: 1º set. 2011.
O Brasil é um destes países e instalou sua base em um dos extremos do Continente Antártico localizado próximo à América do Sul, a Península Antártica. A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) se situa na Ilha do Rei George e foi instalada em 1984. Atualmente ela é composta por 64 módulos de dimensões variadas construídos em aço. Além de acomodações básicas para até 46 pessoas, a base possui 16 laboratórios destinados às pesquisas biológicas, químicas e atmosféricas, e módulos de apoio logístico.
Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF). Imagem disponível em: <http://historica.com.br/wp-content/uploads/2011/01/eacf_noite.jpg>.
Acesso em: 1º set. 2011.
O interesse despertado pela Antártida é recente tanto pela dificuldade que o homem encontrou para explorá-la ao longo do tempo, sendo viável esta abordagem com as novas tecnologias, quanto pela importância que os temas ambientais têm despertado ao longo das últimas décadas. Portanto, além de questões estratégicas no que diz respeito à geopolítica, seu ecossistema distinto e complexo deve ser analisado, assim na terra como no mar.
A OCEANOGRAFIA ANTÁRTICA
Como a temperatura e a quantidade de água doce (concentrada em forma de gelo) no mar influenciam na densidade e na absorção de gases, o oceano antártico detém características peculiares. A produção de plâncton e algas é intensa, uma vez que as condições da água permitem a maior absorção de gases atmosféricos, desta forma, com uma vasta oferta na base da cadeia alimentar, a biodiversidade no local é vasta.
Fauna antártica. Imagem disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/national-geographic/imagens/papeis-de-parede/animais/papel-parede-110-pinguins-antartica.jpg>. Acesso em: 1º set 2011.
O plâncton em grande quantidade alimenta milhares de camarões que se reproduzem em águas frias, inclusive o Krill, principal conjunto de crustáceos marítimos situados na base da cadeia alimentar. Estes, por sua vez, são fonte de alimento para diversos animais da região, inclusive da ordem dos maiores mamíferos do planeta, os cetáceos.
Toda essa variedade de vida habita na periferia do continente, visto que o interior oferece condições inóspitas demais para a sobrevivência de grandes formas de vida. Portanto, todos os animais que usufruem do continente são marítimos ou voadores, obtendo, assim, condições de migrarem para regiões mais quentes do planeta quando chega o inverno na Antártida, o mais rigoroso do mundo. Os animais não migram necessariamente por causa do frio hibernal, que atinge médias de -15ºC na zona costeira e de -50ºC no interior continental, mas sim devido ao congelamento dos mares nessa época do ano. Assim, tornam-se inviáveis a obtenção de comida por parte das aves e a emersão dos mamíferos aquáticos e dos pinguins (animal símbolo da região) para respirarem.
Essas baixas temperaturas do Oceano Glacial Antártico são responsáveis pela vasta extensão territorial do continente, pois, sua porção de terra é muito ínfima (somente 0,4% do continente) e a área do manto de gelo antártico é responsável por imensos 13.612.690 km². Com plataformas de gelo que medem em média 2km de altura, é na Antártida que se concentram 90% do gelo e 70% de toda a água potável do mundo.
A água passa a ser compreendida, então, como a maior riqueza mineral do continente polar, que pode ter sua área dobrada para aproximadamente 20.000.000 km² no inverno devido ao fenômeno do congelamento dos mares. Em virtude disso, o estudo da Antártida se torna tão relevante para temas marinhos, pois é lá que a terra se confunde com o mar.
Condições físico-climáticas tão extremas dificultam o acesso ao continente, que, na maioria das vezes, deve ser feito pelo ar. No entanto, para o transporte de cargas e materiais de pesquisa, a rota marítima ainda assim é muito utilizada. Dois obstáculos típicos para se atingir o continente pela via marítima são correntes de água fria e de ventos. Ambos com altas velocidades.
Navio explorador não suporta as condições adversas de navegação. Imagem disponível em: <http://www.selectopedia.org/thumbnail.php?file=cruise_ship_sinks_132934979.jpg&size=article_medium>. Acesso em: 1º set. 2011.
Os mares circunscreventes à Antártida possuem correntes geladas que viajam a uma velocidade de até 60km por dia, como no estreito de Drake (passagem entre o oceano Pacífico e Atlântico, no extremo Sul da América do Sul e no Norte da península Antártica). Esta corrente, denominada Corrente Circumpolar Antártica passa próxima à linha de Convergência Antártica (60ºS) e é ela que permite o resfriamento das águas próximas ao continente que, por conseguinte, consegue manter sua temperatura baixa e suas plataformas congeladas.
Circulação de correntes oriundas na Antártida. Imagem disponível em: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/antartida-continente/imagens/antartida-103.jpg>. Acesso em: 1º set. 2011.
A passagem de embarcações pela região supracitada é árdua também por causa dos ciclones extratropicais comuns nos oceanos próximos ao Pólo Sul. Posto que os mares respondem aos ventos, as ondas podem chegar a 12 metros de altura ou mais, ainda que normalmente não passem dos 7 metros. Desta maneira, todos os trabalhos de estudos oceanográficos ou de exploração econômica da área são feitos próximos à orla do continente para que as embarcações que fazem esses serviços tenham assistência das bases que ali se localizam, como no caso da EACF.
CONCLUSÃO
Seja pela biodiversidade local distinta de todo o resto do planeta, seja pela riqueza mineral da região ou mesmo pelo caráter obscuro que ainda possui, o Continente Antártico possui grande apelo entre os estudiosos de diversas áreas, inclusive das Relações Internacionais. Em virtude disso, o Brasil e outras três dezenas de países já demonstraram suas intenções de explorar a região.
Não se sabe ao certo o que acontecerá com a Antártida assim que a validade do tratado expirar, mas de modo geral, o país mais visionário, que estiver trabalhando com o meio ambiente, um dos principais temas da nova agenda global, e que dispuser de um acervo tecnológico desenvolvido com este foco, poderá ter para si uma parte de toda a riqueza congelada no pólo sul.
Logo, atos que visem a empreendimentos futuros na região não poderão ser irrefletidos, já que a Antártida é o último continente na Terra que não possui um governo soberano, o que a torna cobiçada e frágil frente aos interesses geo-estratégicos dos atores internacionais. Lembrando que esta região, por ser a mais preservada do planeta, pode irromper como a solução de vários problemas ambientais e econômicos que a humanidade ainda possui. Infere-se, portanto, que uma política voltada para a preservação desse domínio torna-se urgente para fins vindouros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAGA, Elisabete. Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz. Disponível em: <http://www.jornaljovem.com.br/edicao17/antartida_io_proantar01.php>. Acesso em 31 ago. 2011.
DADOS geográficos básicos da Antártida. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/antartica/antartica-antartida.html>. Acesso em: 31 ago. 2011.
GANDRA, Rogério. O Brasil e a Antártida: ciência e geopolítica. Disponível em: <http://www.cantacantos.com.br/revista/index.php/geografias/article/view/175/139>. Acesso em: 31 ago. 2011.
FELICIO, Ricardo. Antártida – A geografia do continente gelado e as operações brasileiras. Disponível em: <http://confins.revues.org/122?&id=122&type=auteur> Acesso em: 31 de ago. 2011.
PENTEADO, Homero. ALVAREZ, Cristina. Proposta simplificada de metodologia de avaliação de impacto paisagístico para novos empreendimentos a serem implementados no ambiente antártico. Disponível em: <http://www.car.ufes.br/lpp/sites/www.car.ufes.br.lpp/files/RAPAL_CHILE2006_impacto_paisagistico.pdf >. Acesso em 31 ago. 2011.
TRATADO da Antártida. Disponível em: <http://www2.mre.gov.br/dai/tratantartida.htm>. Acesso em 31 ago. 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário