sábado, 3 de dezembro de 2011

A exploração marítima e suas consequências ambientais e geopolíticas


Exploração de recursos marítimos: perspectivas para o futuro

Por: Victor de Souza Goes

            O homem, desde antes de inventar os meios de transporte capazes de flutuar sobre as águas oceânicas, já possuía um grande interesse pelo azul do mar, particularmente com o objetivo de se aventurar no desconhecido. Futuramente, esse interesse não vai ser amenizado, ao contrário, existirão cada vez mais e mais pesquisas científicas sobre o que se encontra nesses fundos de riquezas, ainda em grande parte misteriosos para o ser humano.
            Como foi abordado no decorrer das postagens anteriores, existe um complexo cenário geopolítico a caminho, sendo que os principais aspectos estão na capacidade que cada país terá de desenvolver tecnologia para explorar essas remotas áreas, além de como a obtenção dos recursos oferecidos pelo mar serão utilizados como método de barganha no sistema internacional. Da mesma maneira, atividades exploratórias em território marítimo serão alvos de cada vez mais questionamentos, particularmente as que se referem à obtenção de petróleo, haja vista os riscos envolvidos.
            Para concluir o tema, e necessário refletir sobre alguns aspectos. Até que ponto a sustentabilidade está sendo levada em consideração no âmbito das explorações marítimas? Desde o petróleo até os minerais de terras raras, percebe-se que existem problemas em potencial na prática da extração desses recursos. Será que a humanidade tem aprendido o suficiente com os inúmeros casos acidentais nas plataformas petrolíferas ao redor do mundo? Até que ponto as descobertas recentes e, por que não dizer também futuras, de poços como o Pré-sal brasileiro não fazem com que os Estados se acomodem no que diz respeito à busca por métodos de geração de energia menos poluentes? E até que ponto o comércio de bens tecnológicos produzidos incessantemente por uma economia pautada no efêmero e na renovação constante dependerá de recursos extremamente poluentes, como os minerais de terras raras, cujo maior controle se dá pela segunda economia do planeta?
            As respostas somente serão claras ao longo dos próximos anos. Mas o que pode ser adiantado é que o mar será, como sempre, um fator fundamental para o jogo político-econômico internacional, já que novas descobertas a seu respeito são feitas a cada dia, descobertas essas que fomentam a cobiça de alguns dos principais atores das relações internacionais contemporâneas: os Estados e as grandes empresas.

O Homem e o Mar
Homem livre, hás de sempre estremecer o mar!
O mar é teu espelho, e assim tu’alma sondas
Nesse desenrolar das infinitas ondas,
Pois também és um golfo amargo e singular.


Apraz-te mergulhar ao fundo de tua imagem!
Nos braços e no olhar a tens; teu coração
Às vezes se distrai da interna agitação
Ouvindo a sua queixa indômita e selvagem.


Sempre fostes os dois reservados e tredos:
Homem – ninguém sondou as tuas profundezas;
Mar – ninguém te conhece as íntimas riquezas;
Tão zelosos que sois de guardar tais segredos.


Já séculos se vão, contudo, inumeráveis
Em que lutais sem dó um combate de fortes;
E como vós amais os massacres e as mortes,
Ó eternos rivais, ó irmãos implacáveis!

 Charles Baudelaire

Referências:
Poema O homem e o mar. BAUDELAIRE, Charles. Retirado de: <http://gavetadoivo.wordpress.com/2010/11/12/um-poema-de-charles-baudelaire-traduzido-por-ivo-barroso/>. Acesso em: 03 de Dez de 2011

A exploração marítima e suas consequências ambientais e geopolíticas

Os 10 campos petrolíferos mais perigosos do mundo

Por: Victor de Souza Goes

Essa postagem, seguindo o raciocínio da anterior, apresentará os campos de petróleo mais propensos a acidentes. A reportagem também está no site da revista Exame.

1 - Estados Unidos, Golfo do México
O vazamento da BP entrará para lista dos piores desastres petrolíferos dos Estados Unidos, com danos ambientais incalculáveis. Estima-se que, diariamente, pelo menos 60 mil barris de petróleo foram jorrados no mar durante mais de quatro meses. A maré negra criou áreas mortas, que devastaram a vida marinha e prejudicaram a economia piscatória de estados americanos.

2 - Austrália, Margaret River
A exploração de petróleo na região, que fica a 85 km da cidade de Margaret River, costa oeste australiana, foi aprovada este ano (2010). Um acidente no local, considerado santuário potencial silvestre, constituiria um cataclisma ambiental - cerca de 90% da vida marinha australiana se concentra ali.

3 - Refúgio Nacional de Vida Silvestre do Ártico
As explorações acontecem na planície costeira da maior reserva silvestre americana, em uma região conhecida como "1002". Encontram-se aí mais de 80 espécies de aves e 30 de mamíferos, incluindo ursos polares em risco de extinção. Segundo a GRFA, faltam planos e equipamentos adequados para responder a uma ruptura, como a do Golfo, no Oceano Ártico.

4 - Canadá, Terra Nova e Labrador
Localizado a 430 quilômetros da província de Sr. John´s, a petroleira Chevron perfura o mais profundo poço de petróleo em águas canadenses. A exploração a mais de 2500 metros de profundidade começou em maio deste ano (2010) e é mundialmente considerada uma prática de riscos.

5 - Austrália, Mar do Timor
A costa norte da Austrália Ocidental é considerada uma auto-estrada "marinha" para golfinhos, baleias e tartarugas ameaçadas de extinção, e já foi cenário de um dos piores desastres petrolíferos do país. Em agosto de 2009, uma ruptura na  plataforma Montara vazou petróleo por mais de três meses. O acidente afetou a fauna e a flora das ilhas indonésias do Timor e levou à falência pescadores locais.

6 - Mar do Norte, costa oeste das ilhas Shetland
Águas profundas e condições climáticas extremas demandam condições técnicas especiais, que poucas empresas dominam. Um vazamento iria infligir danos consideráveis em mamíferos, aves marinhas e em todo o ecossistema marinho. No começo do ano de 2010, o governo britânico concordou em oferecer milhões de libras de benefícios fiscais para as empresas petrolíferas que exploram águas ultra-profundas ao largo da costa.

7 - Nigéria, Delta do Níger
De 1969 pra cá, as explorações de petróleo no Delta do Níger têm derramado tanto petróleo quanto o acidente do Exxon Valdez em 1989, nos EUA. Os acidentes recorrentes dizimam as populações de peixes, prejudicam terras agrícolas, e destroem os recursos naturais para sobrevivência de 60% da população.

8 - Rússia, Mar de Okhotsk
O mar de Okhotsk é explorado pelo petróleo e pelo gás, mas a agitação de suas águas dificulta as perfurações. Localizado ao norte do oceano Pacífico, o mar está sujeito a ventos fortes, intensas nevadas, icebergs e pouca visibilidade. Suas ondas variam entre um e três metros, mas podem chegar a 19 metros durante tempestades.

9 - Brasil, Bacia de Santos
Na costa sul do Rio de Janeiro, o campo Tupi está localizada abaixo de uma camada de sal que, em alguns pontos, tem até sete mil metros de espessura. As extrações do pré-sal devem atingir profundidades bem acima da média de outras perfurações em curso no Brasil, que ficam em torno dos cinco mil metros.

10 - Estados Unidos (Alasca), Chukchi e Beaufort Seas
Se algum acidente ocorrer na região, planos e ações de controle chegariam tardiamente. A área tem localização remota, sujeita a intensas nevascas e baixa visibilidade. Cientistas ainda estudam formas de controlar a propagação de petróleo em águas geladas.

Referências:
Abril.com – “Os 10 campos de petróleo mais perigosos.” Disponível em: <http://info.abril.com.br/noticias/tecnologias-verdes/os-10-campos-de-petroleo-mais-perigosos-23072010-53.shl?2>. Acesso em: 03 de Dez. de 2011

A exploração marítima e suas consequências ambientais e geopolíticas


Os 10 piores acidentes petrolíferos da história

Por: Victor de Souza Goes

            Para a continuação do enfoque nos acidentes petrolíferos, é interessante colocar quais foram os piores ocorridos ao longo da história. É importante ressaltar que, mesmo os acidentes colocados em postagens anteriores (Petrobras, BP e Chevron) terem sido de proporções graves, nenhum destes consta na lista dos 10 piores, lista essa publicada no site da revista Exame, em maio do ano passado. Dessa forma, deduz-se que a quantidade de óleo despejado em cada um desses acidentes é absurdamente grande, com consequências ambientais simplesmente terríveis: 

1- Guerra do Golfo, Kuwait, Golfo Pérsico (janeiro/1991)
Volume: 1 milhão e 360 mil toneladas (753 piscinas olímpicas)
O pior vazamento de petróleo da história não foi propriamente acidental, mas deliberado. Causou enormes danos à vida selvagem no Golfo Pérsico, depois que forças iraquianas abriram as válvulas de poços de petróleo e oleodutos ao se retirarem do Kuwait.

2- Ixtoc I, Campeche, Golfo do México (junho/1979)
Volume: 454 mil toneladas (251 piscinas olímpicas)
A plataforma mexicana Ixtoc 1 se rompeu na Baía de Campeche, derramando cerca de 454 mil toneladas de petróleo no mar. A enorme maré negra afetou, por mais de um ano, as costas de uma área de mais de 1.600 km2.

3- Poço de petróleo Fergana Valley, Uzbequistão (março/1992)
Volume: 285 mil toneladas  (158 piscinas olímpicas)
Trata-se de um dos maiores acidentes terrestres já registrados. Em março de 1992, a explosão de um poço no Vale da Fergana afetou uma das áreas mais densamente povoadas e agrícolas da Ásia Central.

4- Atlantic Empress, Tobago, Caribe (julho/1979)
Volume: 287 mil toneladas  (159 piscinas olímpicas)
Durante uma tempestade tropical, dois superpetroleiros gigantescos colidiram próximos à ilha caribenha de Tobago. O acidente matou 26 membros da tripulação e despejou milhões de litros de petróleo bruto no mar. 

5- Nowruz, Irã, Golfo Pérsico (fevereiro/1983)
Volume: 260 mil toneladas  (144 piscinas olímpicas)
Durante a Primeira Guerra do Golfo, um tanque colidiu com a plataforma de Nowruz causando o vazamento diário de 1500 barris de petróleo. 

6- ABT Summer, Angola (maio/1991)
Volume: 260 mil toneladas  (144 piscinas olímpicas)
O superpetroleiro Libéria ABT Summer explodiu na costa angolana em 28 de maio de 1991 e matou cinco membros da tripulação. Milhões de litros de petróleo vazaram para o Oceano Atlântico, afetando a vida marinha. 

7- Castillo de Bellver, Africa do Sul (agosto/1983)

Volume: 252 mil toneladas (139 piscinas olímpicas)
Depois de um incêndio a bordo, seguido de explosão, o navio espanhol rachou-se ao meio, liberando cerca de 200 milhões de litros do óleo na costa de Cape Town, na África do Sul. Por sorte, o vento forte evitou que a mancha alcançasse o litoral, minimizando os efeitos ambientais do desastre.

 8 - Amoco Cadiz, França (março/1978)
Volume: 223 mil toneladas (123 piscinas olímpicas)
Um dos piores acidentes petrolíferos do mundo aconteceu em 1978, quando o supertanque Amoco Cadiz rompeu-se ao meio perto da costa noroeste da França. O vazamento matou milhares de moluscos e ouriços do mar. Esta foi a primeira vez que imagens de aves marinhas cobertas de petróleo foram vistas pelo mundo.

9 - M T Haven, Itália (abril/1991)
Volume: 144 mil toneladas (79 piscinas olímpicas)
Outro superpetroleiro, o navio gêmeo do Amoco Cadiz explodiu e naufragou próximo da costa de Gênova, matando seis tripulantes. A poluição na costa mediterrânea da Itália e da França se estendeu pelos 12 anos seguintes.

10 - Odyssey, Canadá (setembro/1988)

Volume: 132 mil toneladas  (73 piscinas olímpicas)   
O poço petrolífero localizado na província canadense de Newfounland explodiu durante uma operação de perfuração da plataforma americana Odyssey. Uma pessoa morreu e outras 66 foram resgatadas sem ferimentos.



Referencias:


           

A exploração marítima e suas consequências ambientais e geopolíticas


Perigos da exploração petrolífera: alguns casos brasileiros

Por: Victor de Souza Goes

            Como exposto anteriormente, existe uma grande expectativa do Brasil perante as atividades na camada Pré-sal. Entretanto, as explorações petrolíferas, como também já exposto anteriormente, podem trazer riscos enormes e imprevisíveis, tanto para o meio ambiente marítimo como para a vida das pessoas as quais trabalham em alto-mar. Pode-se lembrar, por exemplo do acidente da plataforma P-36 da Petrobras, em 2001, a mesma empresa que encabeça as pesquisas da Pré-sal:



            Não se pode esquecer, da mesma forma, do recente desastre ocorrido em uma plataforma da empresa americana Chevron, o qual, embora não tenha sido responsável por nenhuma vítima humana, causou um prejuízo ambiental extremamente relevante na costa brasileira. Para mais detalhes, pode-se consultar o que foi publicado no site Uol Notícias no dia 23 de novembro sobre o caso:
            O secretário estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, Carlos Minc, informou hoje (23) que apenas duas remessas de cerca de 250 mil litros e 135 mil litros de óleo (juntamente com água e ar) puderam ser retiradas do oceano depois do vazamento na Bacia de Campos, norte do Rio. Segundo ele, a maior parte do petróleo já se dispersou no oceano.
“Em aproximadamente um mês e meio, bolas de piche vão estar pipocando nas praias do litoral, resultado do óleo mais grosso que se agrupa em pelotas. O resto foi dissolvido e acabou entrando no ecossistema, e é exatamente isso que estamos analisando para avaliar o tamanho do dolo.”
Para o oceanógrafo David Zee, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), a base da cadeia alimentar marinha da região foi severamente prejudicada.

“Existe a depressão da capacidade de produção de biomassa, parte dela alimento, e isso representa um custo ambiental, olhando muito mais a questão do aproveitamento humano. Além disso, há uma fração do óleo que se impregna na coluna d'água transferindo grande parte das substâncias tóxicas, causando malefício para a vida marinha.”
Zee, que também está trabalhando como perito da Polícia Federal na apuração das causas do acidente ocorrido no dia 8 deste mês, criticou a demora na contenção do vazamento e a falta de equipamentos para evitar a dispersão do óleo.
“Nas primeiras 48 horas, 30% do petróleo que vaza se evapora, poluindo a atmosfera, e em 72 horas o restante se espalha rapidamente. Por isso, o primeiro procedimento é não deixar espalhar o óleo, para retirá-lo, mas como, infelizmente, não utilizaram barreiras flutuantes de contenção, o próprio clima, as ondas e o vento trataram de espalhar esse óleo”, explicou o oceanógrafo.
O pesquisador ponderou que a fração do óleo que não é degradável, que fica permanentemente na coluna de água ou se deposita no fundo do mar, ainda pode chegar à costa do sudeste brasileiro. “Se houver uma mudança do quadro de clima, efetivamente pode ser uma ameaça e chegar ao litoral fluminense. O quadro climático e oceanográfico são favoráveis para essa não aproximação, mas quando chegar o calor e o vento leste, a ressurgência tem maior possibilidade de acontecer e ela pode levar para a costa do Rio de Janeiro.”

            Pode-se observar, pela imagem abaixo, a proporção desse desastre ocorrido recentemente.
 Fonte:http://veja.abril.com.br/noticia/economia/exploracao-de-petroleo-ocorre-sem-fiscalizacao-alerta-defensor-publico. Acesso em: 02 de Dez. de 2011





Referências:
Uol Notícias – “Petróleo disperso no oceano afeta severamente base da cadeia alimentar marinha, diz oceanógrafo”.

“Acidente na plataforma P-36 da Petrobras” – Retirado de:
 <http://www.youtube.com/watch?v=kx6WIG7ygdI&feature=related>. Acesso em: 01 de Dez. de 2011.