sábado, 3 de dezembro de 2011

O mar e o estudo das Relações Internacionais: pirataria em foco

Tema: Pirataria na costa da África e discriminação étnica

Por: Diogo Joaquim dos Santos


As teorias dominantes em RI procuram ora analisar as condições de reprodução da ordem social, tendo em vista o quanto os indivíduos optam pela maximização ou não de seus objetivos, ora analisam as formas de estruturação do Estado, em termos de dominação e poder econômico e político. No entanto, os caminhos da economia global tornaram necessário reconceituar o sentido de racionalidade nessas teorias, pois o bem-estar dos indivíduos não depende de sua capacidade singular.
Interessante nessas teorias como o cosmopolitismo se coloca diante disso. A maioria das intervenções dos Estados desenvolvidos nos países em contexto de crise econômica e política como do Leste Europeu, da América Latina, Oriente Médio e África, se fundam nas crenças de neutralidade de seu poder econômico sobre os países menos industrializados ou nos pensamentos que derivam do sentimento de ‘salvar uma nação da barbárie’ – base de inúmeros valores do ocidente.
Em uma alusão a isso, Catherine Coquery-Vidrovitch em O postulado da superioridade branca e da inferioridade negra, cita uma passagem da recente obra do historiador francês Bernard Lugan a respeito das capacidades individuais dos africanos: “[...] Eles nada podem fazer, pois sempre procederam assim e os pais de seus pais antes deles, [...] tanto que a colonização foi provavelmente uma oportunidade histórica para a África negra, que não a soube aproveitar”¹.
Como podemos observar, a discriminação étnica também tem seu espaço de discussão no tema do mar, pois os mecanismos de atuação dos países europeus no projeto antipirataria podem se operar em uma simples discriminação na hora da repressão. Como muitos pescadores reclamam à mídia local por serem confundidos com piratas, não fica distante pensarmos como a marinha de guerra identifica os piratas cotidianamente: generalizando-os muitas vezes pela sua cor de pele, o que muitas vezes permite um tratamento de ojeriza com todo um povo.
Assim sendo, fica difícil determinar os temas que podem ser incorporados às relações internacionais e, portanto, que podem ter relação com o mar, que passou a assumir importância como categoria econômica e estratégica, sendo redefinido, ora pelo direito internacional, arraigado no cosmopolitismo tradicional, ora em desrespeito a ele, na forma mais natural de apropriação da riqueza de um povo.
Dessa forma o âmbito do mar passa a alocar o debate sobre a pirataria nas Relações Internacionais, agregando aspectos desvalorizados pelas vertentes tradicionais e dando espaço para que os fatos se coloquem menos ao lado da grande mídia (que oculta toda a indústria internacional que extrai os peixes dos mares da Somália), abrindo portas para novos estudos se desenvolvam a partir disso.


Referências 

FACINA, Adriana. DE VOLTA AO FARDO DO HOMEM BRANCO: o novo imperialismo e suas justificativas. 

PIEDADE FILHO, Lúcio de Franciscis dos Reis. A ÁFRICA QUE TINTIM VIU: Metáforas da superioridade européia, estereótipos raciais e destruição das culturas nativas em uma desventura belga. Estudos em Comunicação nº 6, p.349-368. 2009

VIDROVITCH, Catherine Coquery. O postulado da superioridade branca e da inferioridade negra. In: O livro negro do colonialismo. Organização de Marc Ferro. Rio de Janeiro: Ediouro, p. 748-787, 2004.

WALDO, Mohamed Abshir. THE TWO PIRACIES IN SOMALIA: Why the world ignores de other?. 2009. Disponível em http://wardheernews.com/Articles_09/Jan/Waldo/08_The_two_piracies_in_Somalia.html. Acesso em 22 de Novembro de 2011




Nenhum comentário:

Postar um comentário