Tema: Pirataria na costa da África e discriminação étnica
Por: Diogo Joaquim dos Santos
Este ano, a Força Aérea Portuguesa aderiu à missão internacional contra a pirataria na costa da Somália, apoiando-se em justificativas que tornam os somalis os grandes responsáveis pela instabilidade nas águas do Chifre Africano.
No entanto, diversos eventos e o processo histórico da Somália desmistificam a prática da pirataria. Independente desde a década de 1960, na Somália houve um período de forte ditadura de 1969 a 1991, apoiada por diversos governos do primeiro mundo. Portanto, entregue a uma dinâmica econômica mundial indiferente às condições naturais de seca e às mínimas condições de concorrência comercial, diversos grupos passaram a disputar o poder desde então.
O que ocorre é que a população vive uma realidade pouco explorada pela grande mídia. Há aproximadamente duas décadas, o país perdeu a vigilância sobre a larga costa, o que favoreceu países do primeiro mundo a praticarem uma predatória pesca ilegal em suas águas. Este período também marca o início dos saques aos navios estrangeiros. É nesse sentido que o sustento dos pescadores locais foi abalado e aqueles governos que hoje promovem intervenções militares em defesa dos ‘crimes praticados’, contribuem para assolar a pobreza e a fome no país.
Soma-se a esse fato um número considerável de empresas norte-americanas que, desde 1992, estão presentes no país por meio de concessões e contratos de exploração de petróleo - o chifre africano é uma região cobiçada há décadas tanto por causa do petróleo somali, da mão-de-obra barata, como pela importante rota comercial que passa pelo Iêmen.
Em 2005, o porta-voz da ONU Nick Nuttall, relatou que havia uma enorme quantidade de lixo radioativo, hospitalar, metais pesados e substâncias químicas ao longo da sua costa, da propriedade de governos de países europeus, o que estava tornando, segundo alguns jornalistas e historiadores em estudos mais recentes, um terço da população vítima de câncer. Porém, as intervenções militares em defesa de interesses comerciais com pretensões duvidosas passaram a se apoiar num discurso que põe os somalis como homens que viram um meio de ‘lucrar’, sem causa, sem porquês.
Imagem disponível em: <http://www.tlaxcala.es/imp.asp?lg=po&reference=6303> Acesso em: 08 de Setembro de 2011.
Obviamente que a distribuição das riquezas obtidas por parte dos piratas há de se convergir em interesses próprios em diversos casos, mas o apoio da população somali à pirataria é forte, tendo em vista que os piratas (quase todos ex-pescadores e ex-guerrilheiros) passaram a agir em prol da defesa de suas águas, contra a pesca ilegal que deixa a população sem alimento, se impondo contra os navios de descarga de lixo, apropriando-se de produtos e riquezas externas que chegam por navios de carga, reorganizando o comércio local, ainda que por meios claramente discutíveis e fundados num processo de reação.
O debate sobre a questão dos somalis, arraigado de pensamentos racistas sobre o papel civilizador dos países do oeste europeu e norte-americano na África, mostra-nos um insustentável contexto econômico e político, fundado historicamente na apropriação externa e interna das riquezas do país como um todo, aprofundado por práticas intrínsecas ao processo de colonização e os ‘piratas’ e a população somali parecem ter essa certeza como realidade.
O debate sobre a questão dos somalis, arraigado de pensamentos racistas sobre o papel civilizador dos países do oeste europeu e norte-americano na África, mostra-nos um insustentável contexto econômico e político, fundado historicamente na apropriação externa e interna das riquezas do país como um todo, aprofundado por práticas intrínsecas ao processo de colonização e os ‘piratas’ e a população somali parecem ter essa certeza como realidade.
Referências
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FACINA, Adriana. De volta ao fardo do homem branco: o novo imperialismo e suas justificativas
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TSUNAMI PODE TER DESENTERRADO MATERIAL RADIOATIVO. Disponível em : http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2005/03/050302_tsunamidtl.shtml. Acesso em 12 de Setembro de 2011.
WALLERSTEIN, Immanuel. A Etiópia monta o Tigre. Disponível em: http://www2.binghamton.edu/fbc/archive/201pr.htm. Acesso em 17 de Setembro de 2011.
Waves brought waste to Somalia. Disponível em: http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/4312553.stm. Acesso em 02 de Setembro de 2011.WALLERSTEIN, Immanuel. A Etiópia monta o Tigre. Disponível em: http://www2.binghamton.edu/fbc/archive/201pr.htm. Acesso em 17 de Setembro de 2011.
ZAPATA, Fabio. Somalia: una catástrofe ocultada. Disponível em: http://www.kaosenlared.net/noticia/somalia-catastrofe-ocultada. Acesso em 11 de Setembro de 2011.
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